A ejaculação é um processo complexo que envolve a interligação entre o eixo hormonal e neurológico. Qualquer alteração que interfira nessas vias pode ser responsável pelas alterações na ejaculação.
O estudo sobre a ejaculação precoce se iniciou em 1943 com um autor chamado Shapiro, que mostrou uma prevalência de 1 para cada 1000 homens nos Estados Unidos. Sempre foi algo difícil estabelecer o que seria a EP, pois afinal de contas, quais seriam os critérios diagnósticos?
De início pensou-se em estabelecer como critério somente o tempo de penetração vaginal, termo conhecido como IELT (Intravaginal Ejaculatory Latency Time). Mas notou-se que haviam outros pontos importantes para serem levados em consideração, como a inabilidade de controlar a ereção e o comprometimento que isso pode levar para o relacionamento.
Muito tempo se passou até que em 2008, a International Society for Sexual Medicine, por meio de um painel de especialistas resolveu definir a EP com os seguintes termos:
1- Ejaculação que ocorre sempre ou quase sempre dentro do primeiro minuto após a penetração
2- Inabilidade de controlar a ejaculação em todas ou quase todas as relações
3- Comprometimento social, com estresse, ansiedade, problemas conjugais ou isolamento sexual.
Mas uma pergunta que fica. Qual seria o tempo que a média de homens leva para atingir o orgasmo?
Segundo um estudo de Montorsi de 2005, o tempo médio dos homens foi algo em torno de 7 a 14 minutos. Lembrando que esses são dados de apenas um estudo que levou em conta as populações dos Estados Unidos e parte da Europa, podendo ter interferências quanto a região que se estuda.
Impacto Sobre a Qualidade de Vida:
Muitos homens com EP, tem impacto significativo em suas vidas, pois sentem que não são homens o suficiente para satisfazer a pessoa com quem se relacionam. Isso se demonstra em estresse, ansiedade, falta de confiança e problemas conjugais.
Com relação as(os) parceiras(os), o entendimento pode variar desde a compreensão, até pensamentos como se o homem fosse egoísta, sentimento de raiva e frustração.
Há pesquisas que demonstram que quase 80% dos homens que têm EP não procuram auxílio médico. Em sua maioria, por conta de vergonha ou por acharem que não há tratamento. Boa parte dos profissionais de saúde também não está devidamente treinada para lidar com o problema.
Quais são os mecanismos envolvidos?
Existem teorias que associam como causas distúrbios de ansiedade; hipersensibilidade peniana; disfunção do receptor 5-hidroxitriptamina. A ejaculação envolve os sistemas simpático, parassimpático e somático, que interligados, culminam com o orgasmo e liberação seminal.
O neurotransmissor mais estudado é a serotonina (5HT). Existem 14 tipos de receptores desse neurotransmissor, sendo que os tipos 5HT-1A, 5HT-1B e 5HT-2C estariam envolvidos. O primeiro estaria relacionado ao estímulo e os dois últimos ao atraso da ejaculação.
A serotonina é liberada por neurônios pré-sinapticos e atua nos neurônios pós-sinapticos, sendo então internalizada novamente por um processo que se denomina recaptação. Os tratamentos disponíveis para EP focam principalmente nesse mecanismo, atrasando a recaptação de serotonina, fazendo com que ela atue por mais tempo nos neurônios.
Classificação:
A definição da ejaculação precoce pode variar de acordo com a fonte que se usa. Aqui iremos utilizar a classificação da Associação Européia de Urologia, em que diz:
A EP pode ser definida como a que ocorre em até 1min após a penetração vaginal ou com mínimo estímulo sexual, que interfere na qualidade de vida e que não é explicada por utlização de medicamentos ou substâncias ilícitas.
Em termos de classificação, para facilitar o tratamento temos a seguinte divisão: primária; adquirida; subjetiva; intermitente. Abaixo explicamos quais seriam as características desses 4 tipos.
EP primária parece estar relacionada a distúrbios no metabolismo de neurotransmissores como a serotonina, dopamina, além de alterações endocrinológicas e genéticas. Manifesta-se desde o início da atividade sexual, ocorrendo na maior parte das relações, não tendo relação com um relacionamento específico.
EP adquirida pode estar relacionada a ansiedade de performance, problemas conjugais e até mesmo algumas doenças como o hipertireoidismo e a prostatite. Manifesta-se em algum momento da vida em pacientes que não tinham o problema, sendo comum em pacientes mais experientes. É comum a associação entre a Disfunção Erétil e a EP. Muitos pacientes com problemas de ereção experimentam a ejaculação precoce por medo de falhar.
EP subjetiva é aquela que ocorre em pacientes que julgam ter ejaculação precoce, sem tê-la de fato. São pessoas que desejariam ter um tempo de relação maior do que possuem.
EP intermitente é aquela que ocorre em algumas ocasiões, não se constituindo um padrão, mas que incomoda devido a imprevisibilidade.
Tratamento:
Tratar a ejaculação precoce requer a habilidade de fazer um correto diagnóstico, tendo a capacidade de extrair informações daqueles que nem desconfiam que sofrem do problema. É importante relacionar as informações fornecidas com aquilo que se tem na literatura.
Por exemplo, há homens que se queixam de EP tendo um tempo de 30 minutos, ao passo que outros não se queixam de ejacular com 1 minuto ou menos. Para o primeiro o tratamento mais indicado talvez seja a terapia sexual, ao passo que para o segundo, se não houver queixas realmente, não há o que se fazer.
Para aqueles que se enquadram nos critérios que mencionamos acima (em termos de diagnóstico), o tratamento envolve uma série de medidas que vão desde medidas comportamentais até o uso de alguns medicamentos.
Tratamentos Comportamentais:
Os primeiros tratamentos comportamentais datam da década de 50 do século passado e foram iniciados antes mesmo que tivessem opções medicamentosas. O responsável foi um urologista chamado James Semans, que introduziu algumas técnicas que iremos explicar abaixo:
Técnica Stop-Start: técnica em que o homem interrompe os estímulos sexuais durante a relação para inibir os impulsos e a liberação dos neurotransmissores responsáveis pelo orgasmo. (P. ex: retirar o penis e aguardar alguns minutos até que o estímulo desapareça).
Squeeze technique: consiste na(o) parceira(o) apertar gentilmente a região da glande ou do freio do prepúcio para que a atenção seja focada para outra área.
Terapia Sexual: é importante na identificação dos gatilhos responsáveis pela estimulação sexual. Atua na ressignificação de sensações e idealizações quanto à atividade sexual.
Tratamentos Medicamentosos:
Os medicamentos utilizados para o tratamento da EP atuam no sentido de aumentar o tempo até a ejaculação por meio dos mecanismos que comentamos acima. A grande maioria das opções disponíveis atualmente são os Inibidores da Recaptação da Serotonina, Clomipramina e derivados de opióides como o Tramadol.
Há também opções como o spray e cremes com anestésicos locais que são aplicados previamente a relação.
É importante lembrar que nos homens que possuem disfunção erétil, o tratamento desta é de fundamental importância. Nestes inclusive, a causa da EP pode ser o problema de ereção, pois há falta de confiança em sustentar uma relação até o final, com isso ocorrendo a ejaculação antes do que se deseja.
O que se preconiza como um dos melhores tratamentos na atualidade é a combinação das opções que mencionamos. O tratamento como sempre deve ser individualizado.
Conclusão:
Os distúrbios da ejaculação podem interferir sobremaneira na qualidade de vida dos homens, atingindo não apenas o âmbito sexual, mas também esferas conjugais e sociais. É importante que a informação seja divulgada para que se saiba sobre os possíveis tratamentos disponíveis.
Procure seu médico e oriente-se sobre sua condição e sobre os métodos disponíveis para o tratamento. Ejaculação precoce é um distúrbio sexual e possui tratamento!
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